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Quase psicólogos, sparrings encaram TPM e apanham sorrindo em Londres

19 jul

Delegação brasileira conta com 31 atletas auxiliares nos Jogos da Inglaterra. Participação ‘por tabela’ pode servir de trampolim para as próximas edições

Por Helena Rebello e Lydia Gismondi Rio de Janeiro

 

Ninguém gosta de ser “saco de pancada”. Ou quase ninguém. A regra pode ganhar exceções quando o sonho olímpico entra em cena. Nos Jogos de Londres-2012, 31 sparrings viajam para ajudar nos treinamentos dos atletas classificados para representar o Brasil em judô, boxe, taekwondo e luta olímpica. Mesmo fora da briga por medalhas, viram anjos da guarda nos bastidores e prometem apanhar sorrindo. Sonham com os pódios dos colegas e, no futuro, com as próprias conquistas no maior evento esportivo do mundo.

Os sparrings foram selecionados pelas confederações nacionais das modalidades após conversas com as comissões técnicas e com os atletas que vão competir. Todos têm as despesas da viagem custeadas pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), mas os ajudantes não poderão se hospedar na Vila Olímpica, destinada apenas aos inscritos nos Jogos. E terão acesso limitado nos locais de prova, como qualquer torcedor comum.

Delegação do judô cresce com os sparrings: são 18, ao todo (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)

Dois dos 18 sparrings escalados para ajudar a seleção brasileira de judô em Londres têm uma missão diferente. Pela primeira vez, a comissão técnica optou em levar dois homens para treinarem com duas mulheres nas Olimpíadas. Mais fortes da equipe feminina, Mayra Aguiar, da categoria meio-pesado (-78kg), e Maria Suellen Altheman, da categoria pesado (+ 78kg), vão poder lutar de igual para igual com João Luiz Vargas Júnior e Danilo Gonçalves. A novidade está funcionando. E não só dentro dos tatames.

– A gente faz um papel de anjo da guarda. O tempo inteiro protegendo e preparando elas. Estamos fazendo tudo para que cheguem em Londres da melhor maneira possível. A Suelen virou uma filha para mim. É o tempo inteiro cuidando, motivando. É claro que rola muita brincadeira de amigo. Eles falam: “Vi você na televisão. Você estava apanhando de uma mulher? Que feio”. Mas faz parte. Estou muito feliz. Apanho sorrindo – disse Danilo, que garante já saber lidar até com a TPM de sua parceira.

Assim como Danilo, João cuida de cada detalhe da preparação de Mayra. Durante os treinos, o judoca de 23 anos se divide entre os golpes e as palavras de incentivo à amiga de longa data. Os dois são da mesma cidade (Porto Alegre), estudaram no mesmo colégio e suas famílias são amigas.

– É um serviço completo. Não é só cair e apanhar. Isso qualquer judoca com um pouco de experiência pode fazer. Nós somos amigos há muito tempo, então isso facilita. Acabo sendo como um psicólogo. Ela sabe expressar todos os sentimentos dela pra mim: dor, alegria, tristeza…

Participar dos Jogos Olímpicos era um sonho distante para João. Ele chegou a fazer parte da seleção de base do Brasil, mas desde 2005 estava distante do esporte de alto nível. O retorno aos tatames, no entanto, superou muito suas expectativas. Sugerido por Mayra e selecionado pela Confederação Brasileira de Judô, será um dos integrantes da equipe de Londres e promete fazer o possível e o impossível para levar a amiga ao lugar mais alto do pódio.

– Vou apanhar de mulher com muito orgulho e, se Deus quiser, toda essa surra que estou levando vai valer a pena. Ela vai sair campeã. Depois do choro, vem a alegria.

 

Fonte: Globoesporte.com