Não da pra não compartilhar… Obrigada pelas palavras Guga!
Rafaela Silva foi prata no Mundial de Paris, ano passado – Divulgação
Ontem fiquei tão abismado com o ocorrido com a Rafaela que resolvi compartilhar com vocês!
Bala perdida, tiroteio na esquina, NÃO, o que viveu Rafaela ontem foi bem diferente e ao mesmo tempo tão parecido com suas duras lembranças infantis.
Assemelha-se por se tratar de um acontecimento triste, polêmico (desde a decisão que sucumbiu na desclassificação da judoca brasileira, aos fatos que sucederam após a luta), e que todos torcemos pra que nunca se repita.
O FATO: Nesta segunda-feira, a judoca brasileira Rafaela Silva, de 20 anos, foi desclassificada nas Olimpíadas de Londres, ao desferir um golpe ilegal na luta contra a húngara Hedvig Karakas. A atleta carioca, de origem humilde, foi às lágrimas ainda no tatame.
Após a desclassificação, xingada por algumas pessoas no Twitter, Rafaela respondeu com palavrões. Logo, reconheceu que se excedeu no microblog e pediu desculpas.
Ok, aparentemente, uma história delicada que remete a interpretações e análises seguidas de uma conclusão referente a condutas, regras e responsabilidade.
Como sou fascinado por esses assuntos, resolvi expor a minha opinião. Inicio pelo fim, Rafaela Silva é uma HEROÍNA.
Rafaela é dona de uma trajetória, seguramente, mais longa que a de Hércules: percorreu a maratona vindo da Cidade de Deus, local onde nasceu em 1992, e alcançou uma vaga nas Olimpíadas em Londres 2012.
Essa mesma menina brasileira cometeu um equívoco natural, no principal momento de sua carreira, em que todos a observavam. E ela deslizou mais uma vez quando não se conteve ao deparar com criticas abusivas após sua luta, de olhos que, supostamente, minutos antes, torciam pela atleta.
Enxergo simples assim: o primeiro o erro, de uma atleta como qualquer outra, técnico, estratégico, mental, tanto faz, todos cometem. O segundo, de uma pessoa como qualquer outra, de cabeça quente, com raiva, desabafo, tanto faz, todos cometem.
Sendo assim, é preciso recordar que atletas, como sabemos, também são seres humanos e sujeitos aos mesmos tropeços. Considero, obviamente, que a conduta agressiva do desabafo, o único erro contestável, é totalmente equivocado, sendo ela exercida por uma pessoa pública, um atleta, ou qualquer cidadão comum, isso é evidente. E requer as devidas orientações.
O que não concordo é o que vem além disso: EXIGIR que uma menina com a história de vida, recheada de carências sociais geradas pela ineficiência de políticas públicas do nosso Pais, tenha a mesma responsabilidade e conduta que os americanos de Harvard ou os ingleses de Oxford, é pura demagogia. Talvez seja interessante fazer uma comparação com o exemplo inquestionável de procedimento como atleta e ser humano, do meu amigo pessoal e ídolo irretocável, Roger Federer. Em quais colégios estudaram? De que forma foram criados? Quais as experiências de vida dos dois? Quais oportunidades que tiveram? O que seus países proporcionaram a eles?
Concluo que é severamente injusto comparar quaisquer ações da nossa garota Silva, que, como milhares no Brasil, é um exemplo claro de superação da vida, competindo com atletas olímpicos formados em países desenvolvidos que usufruem das melhores condições humanitárias. Sentar pra assistir de camarote e criticar a postura da Rafaela, sem conhecer sua trajetória, é uma covardia.
A luta da Rafaela que devemos olhar é outra, a da batalha, do empenho atrás de um sonho, que encaixou como um kimono em sua vida, através de outros 2 homens exemplares, realizadores de um projeto social do Judô: Flavio Canto e o treinador Geraldo Bernardes.
Ela apoiou-se neles e nos poucos pilares que existiam, família e amigos, sem contar com a ajuda de seu País e muitas vezes renegada por este, e foi à luta, venceu, conquistou, brilhou.
Ninguém tira os verdadeiros méritos olímpicos da Rafaela, que tomou pelo menos mais de MIL decisões certas, esquivou-se dos principais golpes da vida e não deve ser julgada por uma escolha infeliz e impulsiva.
Imagino que tal experiência traz diversos ensinamentos. O primeiro é o aprendizado vivido pela atleta que vai contribuir paro desenvolvimento de sua carreira.
Percebo outros que servem para todos nós: compreensão, solidariedade e respeito, mesmo após equívocos alheios.
E a principal lição é para o nosso País, que precisa urgentemente melhorar as condições básicas de educação, saúde, segurança, e gerar oportunidades decentes ao nosso Povo. Enquanto isso, só temos que agradecer e reverenciar todo e qualquer atleta ou cidadão que tenha a mesma persistência da garota dourada, de sobreviver.
Seguindo os critérios de Coubertin, nossa judoca é OURO, PRATA e BRONZE. Procura melhorar a cada dia na busca eterna de tornar-se uma CAMPEÁ da VIDA.
Fonte: Blog do Guga